O governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), veio a público, mais uma vez, atacar os servidores públicos. Em entrevista à Globo News, Leite defendeu, sem qualquer constrangimento, que o Congresso Nacional dê encaminhamento a medidas que permitam a redução dos vencimentos dos servidores brasileiros. Sem qualquer pudor, apelou para que os parlamentares “viabilizem a constitucionalidade da redução salarial dos servidores públicos”. Servidores, estes, que no Rio Grande do Sul de Leite sofrem com atrasos e parcelamentos e veem seus vencimentos corroídos por juros de empréstimos e dívidas que se acumulam em razão do não pagamento integral dos salários.
Com a propriedade de quem descumpriu sua principal promessa de campanha, a de colocar em dia os salários do funcionalismo estadual no primeiro ano de seu mandato, Leite fala como se os servidores estaduais tivessem todos a sua mesma remuneração. Enquanto o governador se coloca como exemplo de austeridade, bradando que reduziu em 30% em seu salário de mais de R$ 25 mil, 57% dos servidores do Poder Executivo estadual ganham menos de 3 mil reais por mês. Lembrando que a realidade dos Servidores da Defensoria Pública não é tão diferente, já que, o salário bruto dos técnicos administrativos, por exemplo, é de cerca de R$ 3 mil.
Ele também defende que não é justo “que haja duas categorias de povo” e que “não é razoável que haja uma categoria blindada dos efeitos dessa crise”. Em verdade, não é justo. Os trabalhadores dos setores público e privado há anos sofrem com os ataques de governos alinhados com interesses que não os da população. Enquanto isso, o chefe do Executivo pode se dar ao luxo de reduzir o próprio salário e anunciar como um grande sacrifício pessoal, mesmo com todas as suas despesas pagas pelo Estado. Desde a internet que ele usa para realizar reuniões a salvo do coronavírus, passando por suas refeições, e indo até o papel higiênico que usa. Tudo é custeado com dinheiro do Estado, deixando o salário do governador livre para que faça o que bem entender, luxo que nenhuma trabalhadora ou trabalhador pode se dar. Portanto, se existe uma categoria “blindada” aos efeitos desta pandemia, certamente não são os servidores públicos.
Mas Leite não está sozinho nessa investida contra os trabalhadores do Estado. Existe uma movimentação de muitos setores do empresariado e da administração pública que pretendem utilizar este momento de crise para retirar direitos dos trabalhadores, da iniciativa pública ou privada. Esses setores pretendem aproveitar o momento para “passar a boiada” por cima dos direitos daqueles que são e sempre serão os motores da economia e do Estado, os trabalhadores. Em seus ataques aos servidores, Leite se alinha ao que, nacionalmente, defendem Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que despontam mundialmente na vanguarda do fracasso da resposta econômica e sanitária à pandemia do novo coronavírus.
Enquanto o discurso daqueles que querem retirar direitos é o de que os servidores precisam dar a sua parcela de contribuição na pandemia, são justamente estes os que mais estão trabalhando na assistência à população. Os trabalhadores do SUS, dos profissionais da saúde às equipes de administração e limpeza, são o exemplo principal dessa contribuição fundamental dos servidores. Mas não estão sozinhos, os trabalhadores da Caixa Econômica Federal, por exemplo, estão na linha de frente na prestação do auxílio emergencial. Na Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul também não é diferente, com o trabalho incansável dos servidores, já foram realizados mais de 200 mil atendimentos desde março.
O discurso e as tentativas podem ser de ataque ao serviço público, mas é, justamente, durante a crise que a prestação dos serviços públicos e com qualidade se mostra fundamental. O caminho para sair da crise não é o do ataque aos servidores, mas o da valorização e ampliação dos quadros para qualificar, cada vez mais, o serviço público essencial que já vem sendo prestado à população durante a pandemia.
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