As eleições municipais de 2020 marcaram um avanço das candidaturas de pessoas negras, que obtiveram importantes vitórias, estando entre as mais votadas em diversas capitais brasileiras. Até o momento, candidatos autodeclarados negros (pretos ou pardos) já irão ocupar 32% das Prefeituras Municipais e o percentual pode aumentar no segundo turno. No total, foram 1.718 candidatos negros que saíram vitoriosos no domingo. O número é já superior a 2016, quando candidatos negros foram eleitos para comandar 1.605 municípios, 29% do total.
Nas capitais, das 100 candidaturas que se declararam negras e disputaram a eleição à Prefeitura, 14 chegaram ao segundo turno e outras seis venceram o pleito eleitoral no ainda no primeiro turno. Em cinco capitais, o segundo turno será disputado entre dois candidatos negros.
Já nas Câmaras de Vereadores das capitais, 44% dos mandatos serão ocupados por vereadores negros e vereadoras negras. No entanto, um levantamento do portal Gênero e Número revela que esse percentual ainda se distribui de maneira bastante desigual entre os estados. Enquanto em Palmas, no Tocantins, 95% dos eleitos são negros, em Florianópolis, em Santa Catarina, nenhum vereador da próxima legislatura é negro. As demais capitais da Região Sul também estão entre as com menor representação de negros e negras.
Em Porto Alegre, cinco candidatos autodeclarados negros foram eleitos, a maioria mulheres. Esse número representa apenas 11% do total de cadeiras para vereança na cidade. Por outro lado, a candidata mais votada na capital gaúcha foi Karen Santos (PSOL), que fez 15.702 votos. Entre os cinco mais votados também está Matheus Gomes (PSOL) que recebeu 9.869 votos. Outras três mulheres negras foram eleitas para a Câmara de Vereadores da cidade: Laura Sito (PT), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Daiana Santos (PCdoB).
Em Curitiba (PR), apesar de ser uma das capitais com Câmaras mais brancas, haverá a primeira vereadora negra, Carol Dartora (PSOL). Ela foi a terceira mais votada na cidade, com mais de 8.800 votos. Em Recife (PE), 28% dos vereadores eleitos são negros, e a vereadora mais votada foi Dani Portela (PSOL), com cerca de 14 mil votos. A capital paulista também uma mulher negra foi a mais votada: Erika Hilton. (PSOL). Negra, trans e defensora dos direitos da população LGBT+, ela acumulou mais de 50.500 votos.
Um dos fatores que pode ter levado ao aumento da bancada negra em muitos municípios foi o acréscimo no número de candidatos pretos e pardos em relação à eleição de 2016.Em 2020, pela primeira vez, os candidatos negros representaram o maior grupo de postulantes a cargos eletivos no país. Ao todo, foram 268.177 candidatos pretos ou pardos, o equivalente a 49,9%, um número maior que o de candidatos autodeclarados brancos, que foi de 259.079, 48,2% do total.
De acordo com reportagem da revista Piauí, conquistas obtidas na Justiça também ajudam a explicar o crescimento das candidaturas de pessoas negras. Uma delas foi o estabelecimento de uma cota de 30% do Fundo Especial de Financiamento de Campanhas (FEFC) para candidaturas de negros.
Longo caminho a percorrer
O percentual de brasileiros que se declaram negros é de 56,10%, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PnadContínua) do IBGE. No entanto, nas capitais brasileiras, as candidaturas negras a prefeito, que incluem pretos e pardos, representaram somente 33,75% do total, um percentual menor do que o de 2016, em capitais como Florianópolis nenhum representante na Câmara será negro. Os números também evidenciam que a representação da população preta é ainda menor, já que para cada pessoa autodeclarada preta que se registrou como candidato na Justiça Eleitoral, havia quatro pardos concorrendo.
Apesar dos avanços importantes registrados na eleição deste ano, os números também revelam um longo caminho a ser percorrido no sentido de garantir uma representação real da população negra.
Com informações: Gênero e Número, Piauí e Brasil de Fato.
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