O Brasil chegou, no último final de semana, à triste marca de 100 mil mortes por covid-19. No Rio Grande do Sul, mais de 2.3 mil vidas já foram perdidas para o novo coronavírus. Por si só, o número já é alarmante, e sintoma de que algo vai muito mal na resposta dos governos federal e estadual à pandemia. No entanto, não se trata de números, mas de vidas: foram 100 mil pais, mães, avôs, avós, filhos, filhas, netos, netas, maridos, esposas, amigos, amigas, amores, sonhos, futuros…
Perdemos, todos nós, 100 mil. Mas não perdemos por acaso ou por força da natureza. Perdemos pela omissão do governo federal que, desde o início, minimizou a gravidade da pandemia, priorizando interesses econômicos em detrimento da vida. Já foram mais de 3 milhões de infectados e “E daí”, “Não sou coveiro”, “Quer que eu faça o quê?”, “Vamos tocar a vida”, foram apenas algumas das declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), diante da uma tragédia que ultrapassa a esfera pessoal, privada, que é uma tragédia social.
Bolsonaro, não apenas minimizou a gravidade, mas atuou ativamente para tornar a situação ainda pior para os brasileiros. Em abril, o ocupante do Palácio do Planalto demitiu o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. A demissão se deu após desgaste público entre os dois, já que as políticas do Ministério da Saúde vinham seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendando o isolamento social para evitar a propagação descontrolada do vírus. Para Bolsonaro, a solução era Cloroquina e salvar a economia. Sobre as vidas que seriam perdidas? “E daí?”. O ministro seguinte, Nelson Teich, ficou menos de um mês no comando da pasta, saindo em meados de maio. Desde então, o Brasil sequer tem um ministro da Saúde. Na pior crise sanitária da história do Brasil, o cargo é ocupado por um interino há três meses.
Já em nível estadual, o governador Eduardo Leite (PSDB) maquiou de cientificidade seu “Modelo de Distanciamento Controlado”, que tirou totalmente de controle a pandemia no Rio Grande do Sul. Muito antes de estabilizar a curva de infecção pelo novo coronavírus, o governo permitiu a reabertura de bares, restaurantes, shoppings centers, etc., locais totalmente incompatíveis com cuidados mínimos de prevenção, como uso de máscara e distanciamento social. O resultado foi desastroso. Na semana de 3 a 9 de maio, última antes da reabertura realizada pelo governo do estado, foram registrados 1.568 casos de covid-19. De lá pra cá, o número de novos casos cresce semana a semana, chegando a 11.130 novos casos em sete dias na semana que foi de 12 a 18 de julho. Ao todo, são mais 83 mil casos em 95% dos municípios gaúchos e quase 80% dos leitos de UTI ocupados.
Neste momento de luto e dor de um povo inteiro, precisamos destacar que não foi por acaso. Foram escolhas dos governo federal e estadual que nos trouxeram até aqui. Foi a escolha pela economia em detrimento da vida. O SINDPERS lamenta profundamente cada uma das mais de 100 mil mortes por covid-19 no país e se solidariza com familiares, amigos e colegas pela perda de seus entes queridos.
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