Brasileiros dormem na fila para conseguir um advogado de graça. Em todo o país, faltam mais de três mil defensores públicos.
Na escuridão, na calçada, gente sonolenta e indignada.“Já vim aqui duas vezes às quatro horas da manhã e não fui atendido, dormi na fila, é triste, mas é a realidade das coisas”, queixa-se o comerciante Jesse da Silva Oliveira.
Mais de 300 pessoas amanhecem todos os dias na fila em frente às unidades da Defensoria Pública estadual em Campo Grande. Tem sido assim desde que terminou o recesso, na semana passada. Às 6h a porta é aberta e começa a distribuição de senhas. “O número da minha senha é 548, vamos esperar, vamos ver o que vai dar”, diz a dona de casa Dulcinéia Almeida.
Ler um livro, ter paciência para ficar horas esperando para conversar com o defensor. Nos rostos, o cansaço. Tem muita gente que já foi uma, duas vezes à Defensoria Pública e não conseguiu conversar com o advogado. Em Mato Grosso do Sul faltam 92 defensores e em 25 comarcas não tem um defensor público para atender a população.
Mais da metade das comarcas brasileiras não têm defensor público. Na Bahia, menos de 10% têm defensores, faltam 737. Em Minas Gerais, o déficit é de 533 defensores. Em Pernambuco, onde a maioria da população precisa de atendimento jurídico de graça, faltam 130 defensores. Em Alagoas, o déficit é de 40. Em Mato Grosso são 20 vagas para serem preenchidas. Em todo o Brasil são 3.072 cargos vagos.
Para aumentar o número de defensores, foi feito um concurso e são os governos estaduais que têm de abrir vagas. “Nós temos muita demanda na área da família com ações de alimentos, divórcios, guarda, na área da saúde, ações para medicamentos, consultas. Precisamos de verba, sem verba não tem como contratar profissionais e colocar mais defensores para atuar”, diz , o defensor-chefe em Mato Grosso do Sul, Luciano Montalli.
Gabriela e Vânia não conseguem vagas em creches e querem garantir na Justiça o direito dos filhos. É a segunda tentativa de Vânia e a senha dela é a 248. “Minha amiga veio aqui e foi o único meio que ela conseguiu, abriu um processo, foi um jeito que ela conseguiu a vaga do menino dela”, diz Vânia Aparecida da Fonseca, que é agente de saúde.
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