Pesquisa do SINDPERS revela panorama inédito sobre condições de trabalho e bem-estar na DPE/RS
- Imprensa SINDPERS

- 13 de out.
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O SINDPERS apresentou nesta segunda-feira (13) os resultados da pesquisa “Sindicato em Ação: Organização, Saúde e Subjetividade no Trabalho da Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul”, em uma live transmitida ao vivo no Youtube do sindicato. O estudo, realizado entre junho e julho de 2025, buscou compreender como os servidores percebem suas condições de trabalho, saúde mental, relações institucionais e oportunidades de desenvolvimento.
Com metodologia quanti-qualitativa, a pesquisa ouviu 252 servidores de diferentes regiões e cargos da Defensoria Pública do Estado, permitindo um diagnóstico detalhado do ambiente laboral e dos fatores que influenciam o bem-estar e o engajamento da categoria. O levantamento foi conduzido por pesquisadores especializados em administração, psicologia organizacional e estatística, marcando um avanço histórico na produção de dados sobre a realidade do trabalho na instituição.
Sentido do Trabalho e Pertencimento
Os resultados mostram que os servidores da Defensoria Pública reconhecem o valor e propósito em suas funções. Cerca de 57,6% dos respondentes afirmaram que o trabalho está alinhado ao seu propósito de vida, indicando forte identificação com a missão social da instituição.
Por outro lado, 35% declararam não se sentir pertencentes à Defensoria, e uma proporção semelhante afirmou não perceber reconhecimento institucional pelo comprometimento com o trabalho. O relatório destaca que sem mecanismos de valorização simbólica e emocional, o engajamento institucional tende a se deteriorar, mesmo entre profissionais profundamente comprometidos com a missão pública.
Organização do Trabalho
A dimensão referente à organização do trabalho foi uma das que mais expôs dificuldades estruturais. 58,1% dos servidores afirmaram sentir-se sobrecarregados com as atividades, enquanto 68,5% consideram insuficiente o número de profissionais disponíveis para atender à demanda.
Além da sobrecarga, 71,9% apontaram incompatibilidade entre o atendimento ao público e as tarefas administrativas, o que gera conflitos de prioridade e estresse. Embora os prazos para execução das tarefas sejam vistos como adequados por mais da metade dos participantes, a pesquisa revela déficit de planejamento, falta de padronização de procedimentos e sensibilidade limitada às necessidades individuais dos servidores.
Autonomia e Participação
A maioria dos trabalhadores (75,6%) relatou ter autonomia para executar suas tarefas, mas a percepção de participação nas decisões é mais restrita: apenas 57% afirmaram sentir-se ouvidos ou envolvidos nas decisões do local de trabalho.
A pesquisa mostra que há espaço para ampliar os canais de escuta e participação, sobretudo em temas que afetam diretamente o cotidiano dos servidores. A concentração de poder decisório em instâncias superiores, especialmente na área administrativa, aparece como um entrave para a construção de um ambiente mais democrático e colaborativo.
Liderança e Gestão
A atuação das chefias imediatas foi avaliada de forma predominantemente positiva. 71,2% dos servidores afirmaram sentir reconhecimento de seus gestores diretos e 66,8% disseram receber as informações e o suporte necessários para realizar o trabalho.
Por outro lado, o relatório diferencia claramente a percepção das lideranças locais e da alta administração: enquanto os gestores diretos são vistos como abertos ao diálogo e respeitosos, a Subdefensoria Administrativa foi mencionada de forma recorrente como distante e pouco sensível às demandas dos servidores.
Ambiente de Trabalho e Recursos
As condições físicas e estruturais das unidades revelam um quadro de desigualdade e precarização. Embora 57,8% afirmem ter acesso a ferramentas físicas e digitais adequadas, 77,8% dos respondentes disseram haver necessidade de melhorias ergonômicas.
Mais de 40% consideram inadequada a estrutura física do local de trabalho, mencionando problemas como ruído excessivo, má ventilação, mobiliário inadequado e falta de segurança. Servidores também relataram situações de risco e violência por parte do público, 57,2% relatam já terem sofrido ameaça, constrangimento ou violência dos assistidos. 68,2% acreditam que não há condições de segurança para lidar com conflitos com os assistidos.
Relações de Trabalho
Entre os pontos mais positivos do levantamento está o clima de solidariedade e apoio entre colegas. 88% dos servidores afirmaram contar com ajuda de seus pares quando necessário, e 86% consideram bom o relacionamento interpessoal em suas equipes.
Essas redes horizontais de colaboração funcionam como fatores protetivos contra o estresse e a sobrecarga, compensando parcialmente as deficiências estruturais. No entanto, o estudo aponta que a integração entre níveis hierárquicos ainda é limitada, 35,6% discordam que exista essa integração, o que fragiliza o senso coletivo e amplia a distância entre servidores e administração superior.
Remuneração e Desenvolvimento
Os dados sobre remuneração e desenvolvimento profissional revelam insatisfação generalizada. Mais de 82% sentem falta de benefícios institucionais, e 55% afirmaram que o salário não é suficiente para cobrir suas necessidades básicas.
Além da defasagem salarial, 75% consideram insuficientes as oportunidades de capacitação oferecidas pela Defensoria. A falta de critérios claros para avaliação de desempenho e a insegurança em relação a punições injustificadas — relatada por 48,8% dos participantes — agravam a sensação de estagnação e vulnerabilidade profissional.
Saúde, Bem-Estar e Equilíbrio
Os indicadores de saúde mental chamam atenção: 72,7% dos servidores relataram ter apresentado sintomas psicológicos relacionados ao trabalho, como estresse, ansiedade e esgotamento, enquanto 65% apontaram sintomas físicos decorrentes da rotina laboral.
A percepção de ausência de cuidado institucional é quase unânime — 83,6% discordam da afirmação de que a Defensoria se preocupa com o bem-estar de seus servidores. O estudo conclui que há um sofrimento difuso e sistematizado, exigindo ações urgentes em saúde ocupacional, prevenção ao adoecimento e promoção da qualidade de vida.
Violência, Assédio e Discriminação
Os resultados revelam um cenário preocupante: 49,4% dos servidores afirmaram já ter vivenciado episódios de assédio, violência psicológica ou discriminação, e 56,4% disseram ter presenciado colegas passando por situações semelhantes.
Apenas 6,2% acreditam que a Defensoria dispõe de mecanismos adequados para enfrentar esses problemas. A ausência de políticas efetivas de prevenção e acolhimento reforça a percepção de vulnerabilidade e silenciamento das vítimas, especialmente em situações de conflito com o público.
Diversidade e Justiça Organizacional
Apesar das dificuldades, a maioria dos respondentes (75,9%) afirmou não perceber discriminação por gênero, raça, orientação sexual ou deficiência no ambiente de trabalho. Contudo, 43,1% identificaram favorecimento de colegas por gestores, e quase 30% declararam não compreender os critérios adotados em processos de remoção.
Esses resultados indicam que, embora o ambiente seja percebido como respeitoso, há dúvidas sobre a transparência e a equidade nas decisões gerenciais.
Trabalho Remoto
A modalidade de trabalho remoto foi apontada como um dos principais fatores protetivos da saúde e da qualidade de vida. 84,3% dos servidores afirmaram que o home office melhora seu bem-estar, e 76,3% disseram preferir o modelo remoto ou híbrido ao presencial.
Apesar disso, a pesquisa revelou forte desigualdade no acesso: apenas 10,8% dos técnicos têm autorização para o trabalho remoto, frente a 52,5% dos analistas. A diferença reforça a necessidade de critérios mais transparentes e equitativos na gestão dessa modalidade.
Fatores de Risco e Fatores Protetivos
No ambiente de trabalho, diversos elementos foram apontados como influências positivas ou negativas à saúde mental e o bem-estar dos servidores. Enquanto alguns fatores aumentam a vulnerabilidade ao estresse e insatisfação, outros funcionam como proteção, favorecendo motivação, engajamento e qualidade de vida no trabalho. A seguir, destacam-se os principais fatores de risco e os fatores protetivos identificados.
Entre os principais fatores de risco psicossocial estão:
Sobrecarga de trabalho e déficit de pessoal;
Falta de reconhecimento institucional;
Deficiências estruturais e ergonômicas;
Violências e ameaças por parte do público;
Remuneração defasada e ausência de benefícios;
Falta de diálogo e participação nas decisões.
Como fatores protetivos, destacam-se:
Relações solidárias entre colegas e chefias imediatas;
Identificação com a missão institucional;
Autonomia operacional;
Modalidade de trabalho remoto e híbrido.
Conclusões e Recomendações
A pesquisa encomendada pelo SINDPERS representa um marco no diagnóstico da realidade de trabalho dos servidores da Defensoria Pública e oferece subsídios concretos para a construção de políticas de valorização, saúde e diálogo institucional.
Entre as recomendações destacadas estão:
Implementar programas de promoção da saúde mental e bem-estar;
Ampliar o quadro de pessoal e revisar a distribuição de cargas de trabalho;
Garantir transparência e equidade nas políticas de gestão, remoção e teletrabalho;
Reforçar ações de enfrentamento à violência e discriminação;
Valorizar simbolicamente e financeiramente o corpo funcional, assegurando oportunidades de crescimento e reconhecimento contínuo.
O relatório na íntegra está disponível no link: bit.ly/relatorio-sindpers
Discussão dos resultados
O Sindicato irá oportunizar um momento de discussão dos resultados do estudo com a categoria na Assembleia Geral da próxima segunda-feira (20). A atividade inicia às 8h30 e será realizada em formato híbrido: na sede do Sindicaixa (Rua da República, 92 — Cidade Baixa, Porto Alegre - RS) ou pelo link: bit.ly/agesind2010.







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